Jogo do Toque - Parte 1

Jogo do Toque - Parte 1

Uma carta. Duas. E finalmente viera a combinação perfeita. Licurgo esperava aquelas duas benditas cartas desde que se iniciara o jogo há mais de uma hora. Olhou uma, duas, três vezes até se certificar de que a ansiedade não o traíra. Não restavam dúvidas. Encontrara o par de cartas tão sonhado: “Massagear” e “Peito”. Nem mesmo ele acreditava que concretizaria um desejo oculto há anos: pegar nos peitos da Bianca. Naquela noite, tudo parecia dar certo para ele. Reunira os cinco melhores amigos da adolescência em um chalezinho discreto da Serra Gaúcha. Todos tinham seus 20 e poucos anos. E aceitaram prontamente participar do Jogo do Toque.

Bianca, Gizelda e Heleninha se acomodaram no sofá de veludo marrom. Licurgo, Carlinhos e Patada se ajeitaram pelos pelegos da sala. Organizados assim poderia parecer que se tratava de um grupo qualquer. Nem perto disso. Quase todos se pegaram em diferentes épocas da juventude. Heleninha e Carlinhos até namoraram um tempo. Mas o relacionamento durou pouco. Afinal, preferiam as pegações e as loucuras da turma.

As amigas, aliás, sempre mantiveram seus casinhos paralelos, assim como os outros três. Mas a felicidade e o tesão apareciam com mais volúpia toda vez que o sexteto se juntava. Apenas Licurgo e Bianca não deram mais do que um beijinho na boca numa noitada regada a vinho tinto. Ninguém sabia o porquê. E os dois desconversavam sempre que insistiam no assunto. Diziam as más línguas que se amavam. Essa tese, obviamente, era rejeitada pelo casal. Se um se pegava com alguém do grupo, o outro parecia não se importar. Ou pelo menos escondia o desconforto. Mas naquela noite fria de inverno, à beira da lareira, Licurgo e Bianca logo se veriam diante de uma definição. Era a vez dele tirar duas cartas: uma de ação e outra de parte do corpo. E a de Bianca esperar pela combinação.

Licurgo puxou a primeira. A leitura de “Massagear” veio seguida de um ligeiro frio na espinha. “É agora”, pensou. “É agora...”. A segunda carta fez os olhos dele brilharem. “Peito”. Bianca estremeceu ao perceber o sorriso malicioso do amigo. E fez questão de acompanhar o olhar dele ao longo do seu corpo esguio e bem traçado. Ela não era, porém, a mais bonita das três. Mas tinha curvas esculturais. Era muito gostosa, impossível de negar. Tinha 24 anos e deixava para trás muita menininha de 17, 18 aninhos. Exibia coxas grossas e peitos dos mais generosos. E foram eles que ela protegeu com as duas mãos assim que Licurgo revelou ao grupo as duas cartas do baralho.

- Não! Não, não e não! – reagiu ela, com olhos esbugalhados e aflitos.

Os cinco amigos estranharam. Ninguém havia rejeitado uma combinação de cartas em mais de uma hora de brincadeira. Nem mesmo quando Patada tirou “Beijar” e “Virilha” na vez da Heleninha.

- Ah, nem vem com essa, Bianca! Tu topou entrar no jogo. Agora agüenta, porra – reclamou a desbocada da Gizelda.

Bianca não tinha escolha. E sabia disso. Dar para trás naquele momento poderia abalar a cumplicidade do grupo. E ela não queria isso. Mas só em pensar em Licurgo acariciando seus peitos fazia com que sentisse náuseas. Gostava dele de um jeito tão diferente que às vezes confundia com paixão. Mas sempre soube que ele era o mais filho da puta da turma. Comia todas e se vangloriava. Agia como um imbecil, um idiota, se achando o homem mais fodão do mundo. Não passava de um borra-botas, pensava consigo mesma. Teve uma vez que espalhou ter comido duas colegas dela de faculdade de uma só vez. Bianca tinha ficado puta. Achava um absurdo. Por isso nunca se entregou a um beijo dele. Mas diante dos melhores amigos estava difícil escapar da obrigação prevista pelas cartas.

Finalmente deu dois passos à frente, passou perto da lareira e parou diante de Licurgo.